CASA BURMESTER: FACULDADE DO PORTO



Letras muda-se para o Campo Alegre
 Março de 1977
 Em meados da década de 70, a dispersão dos cursos da Faculdade de Letras por vários espaços da cidade e a necessidade de encontrar um espaço para o recém-criado (1975)
 Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar (ICBAS) motivou nova mudança das instalações da FLUP.
A solução passou, em 1977, pelo "Complexo Pedagógico", um imóvel localizado no Campo Alegre e inicialmente destinado ao Instituto de Botânica.
 Apesar de não oferecer as condições ideias para a missão da faculdade, o "Complexo Pedagógico" representou a possibilidade de reunir num único espaço os cursos da FLUP que, até aí, haviam estado dispersos pela cidade.
Este complexo foi a “casa” de Letras até 1995, altura em que a Faculdade de mudou para as novas instalações na Via Panorâmica.

Imagem pequena da fotografia - Casa Burmester - Rua do Campo Alegre, n.º 1055
Casa Burmester - Rua do Campo Alegre, n.º 1055


Imagem pequena da fotografia - Edifício do Complexo Pedagógico do Campo Alegre
Edifício do Complexo Pedagógico do Campo Alegre


Imagem pequena da fotografia - Casa Burmester - Portão visto do interior da quinta

Casa Burmester - Portão visto do interior da quinta

Imagem pequena da fotografia - Casa Burmester - Fachada voltada a Norte
Casa Burmester - Fachada voltada a Norte

Imagem pequena da fotografia - Casa Burmester - Fachada voltada a Sul
Casa Burmester - Fachada voltada a Sul

Imagem pequena da fotografia - Casa Burmester - Portão de entrada na Rua do Campo Alegre, n.º 1055
Casa Burmester - Portão de entrada na Rua do Campo Alegre, n.º 1055



Imagem pequena da fotografia - Casa Burmester
Casa Burmester

Imagem pequena da fotografia - Travessa de Entre Campos vista da Casa Burmester
Travessa de Entre Campos vista da Casa Burmester

Imagem pequena da fotografia - Travessa de Entre Campos

Travessa de Entre Campos

Breve história da Universidade do Porto

Com origens que remontam ao século XVIII, a Universidade do Porto é uma das maiores instituições de ensino e investigação científica de Portugal e uma das 100 melhores universidades da Europa.

U.Porto - Edifícios com história

A já centenária Universidade do Porto é constituída formalmente em 22 de Março de 1911, logo após a implantação da República em Portugal. As suas raízes, contudo, remontam a 1762, com a criação da Aula de Náutica por D. José I. Esta escola e as suas sucessoras (Aula de Debuxo e Desenho, criada em 1779; Academia Real da Marinha e Comércio, em 1803; Academia Politécnica, em 1837) serão responsáveis pela formação dos quadros portuenses ao longo do séc. XVIII e XIX, dando resposta às necessidades de pessoal qualificado na área naval, no comércio, na indústria e nas artes.
Em 1825 é fundada a primeiro escola médica do Porto, a Real Escola de Cirurgia, que, transformada em 1836 em Escola Médico-Cirúrgica, será o outro vetor de formação da U.Porto.
Paralelamente, a Aula de Debuxo e Desenho dará origem a outras escolas – Academia Portuense de Belas Artes (1836), depois Escola Portuense de Belas Artes (1881), finalmente Escola Superior de Belas Artes do Porto (1950). Esta última transformar-se-á, ao longo do último quartel do séc. XX, nas atuais faculdades de Arquitectura e de Belas Artes da U.Porto.
Se, numa fase inicial, a U.Porto surge estruturada em duas faculdades (Ciências e Medicina), assistiremos ao longo de todo o séc. XX a uma diversificação de saberes e autonomização de escolas. Ainda durante a 1.ª República, surgirá em 1915 a Faculdade Técnica (rebatizada em 1926 de Faculdade de Engenharia), em 1919 a Faculdade de Letras, em 1921 a Faculdade de Farmácia.
O crescimento da U.Porto durante o regime autoritário nascido do movimento militar de 28 de Maio de 1926 será mitigado: a Faculdade de Letras é extinta em 1928, para ser restaurada em 1961; só a Faculdade de Economia será verdadeiramente criada de raiz neste período, em 1953.
Após a revolução de Abril de 1974, e até ao fim do século, a U.Porto entrará finalmente em expansão. Às seis faculdades existentes juntaram-se mais oito: Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (1975), Faculdade de Desporto (1975), Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação (1977), Faculdade de Arquitectura (1979), Faculdade de Medicina Dentária (1989), Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação (1992), Faculdade de Belas Artes (1992) e Faculdade de Direito (1994). Hoje, a Universidade do Porto conta com catorze faculdades e uma escola de pós-graduação, a Escola de Gestão do Porto, criada em 1988 e cuja designação passou a ser Escola de Negócios da Universidade do Porto a partir de 2008.

Casa Burmester

Fotografia da Fachada voltada a Norte da Casa Burmester / Photo of the north façade of the Casa BurmesterQuinta e Casa Burmester, sitas no número 1055 da Rua do Campo Alegre, foram baptizadas com o apelido dos seus donos mais recentes, antes de a propriedade passar a fazer parte integrante do património imobiliário da U.Porto, em 1957. Chamava-se "Quinta do Campo Alegre" quando, em 1896, foi comprada por 2 contos de réis a Eduardo Alves da Cunha e mulher, Anna Luiza Marques d’Oliveira Cunha, pelo negociante Gustavo Adolfo Burmester. A aquisição da quinta e dos respectivos rendimentos, outrora pertencentes à sociedade comercial António Alves da Cunha & Companhia, teve lugar a 11 de Maio de 1896. A escritura de venda descreve-os da seguinte maneira:
"Campo de terra lavradia denominado "Campo Allegre" com uma casa para caseiro, poço d’agua com engenho e mais pertenças, sito na rua do Campo Alegre com uma porta d’entrada que tem o numero seiscentos e vinte e um, freguezia de Massarellos, d’esta cidade, confrontando do norte com a dita rua do Campo Alegre, do poente com viella publica, denominada do Monteiro, do sul com o campo de Egydio Teixeira Duarte e do nascente com Pedro Maria da Fonseca Araújo e António Gonçalves da Silva; é de natureza de prazo, foreiro no domínio directo ao Priorado de Cedofeita, hoje massa commum da Collegiada, com o foro annual de sessenta e nove litros e quarenta centilitros de trigo, igual porção de centeio, sessenta e cinco litros, seiscentos e vinte e cinco decimililitros de milho, dezesete litros e trinta e cinco centilitros de cevada, meio carro de palha triga, quatro gallinhas e o laudemio de quarenta-um".
Desenho da Casa Burmester - Fachada Principal / Drawing of Casa Burmester - Main FaçadeNo ano seguinte ao daquela transacção, a Câmara Municipal do Porto autorizou o novo proprietário, Gustavo Adolfo Burmester, a construir uma casa de habitação dentro do perímetro da quinta, conforme o projecto aprovado a 22 de Fevereiro e "com tanto que o fundo da fossa seja arredondado em arco de circulo com a flecha de 1/10 do seu comprimento e todos os ângulos interiores da mesma forma na ligação das paredes com o fundo tambem arredondadas em arco de circulo de 0,25 m de raio, e ficando sujeito ao disposto nas respectivas posturas e mais deliberações municipaes. Porto, Paços do Concelho, 5 de Março de 1897. (…)".
Nessa mesma data, Gustavo Burmester assumiu, ainda, o seguinte compromisso com a edilidade portuense: a casa a construir seria em granito duro e cal hidráulica, as paredes exteriores do rés-do-chão teriam a espessura de 0,70 m, isto é, mais 10 cm do que as do primeiro pavimento e mais 15 cm do que as a edificar por cima destas. As paredes interiores teriam 0,30 m de espessura. Assim como se comprometeu a observar os restantes requisitos apresentados pela Câmara e que eram os seguintes:
"A armação bem como o travejamento será de pinho de riga, tendo a armação as dimensões de 0,10 x 0,15 para as peças principaes; 0,08 x 0,12 para as secundarias e 0,06 x 0,08 para barrotes. Nos travejamentos a secção será de 0,10 x 0,25 e a distancia de eixo a eixo de 0,55. As condicções d’esgoto dentro do edifício serão de chumbo de 0,10m de diâmetro, e as exteriores até a fossa de tubos de grez de 0,20m de diâmetro. A fossa será construída de pedra, e revestida de argamassa de cimento e areia.".
Rectificação da viela de Entre-Campos, arruamento entre a Casa Burmester e a Andresen (desenho)Pouco tempo depois chegou à Câmara Municipal do Porto novo requerimento de Gustavo Burmester, que pretendia obter autorização para vedar a sua propriedade da Rua do Campo Alegre "tanto pelo lado d’esta rua como pelo lado Poente, por onde confronta com o caminho tortuoso que da dita rua segue para o Alto d’Arrabida". Para fazer face às despesas que a Câmara teria de suportar, Gustavo Burmester doou ao município, como contrapartida, a porção de terreno necessária para alinhar o arruamento, cuja largura seria de cinco metros, tal como constava da planta que o requerente apresentou ao mesmo tempo. A escritura de cedência do terreno foi lavrada em 14 de Agosto de 1897. Este alinhamento implicou a anuência de João Henrique Andresen, proprietário da casa vizinha do lado poente, a qual também acabaria na posse da U.Porto, na segunda metade do século XX.
Entretanto, prosseguiram as melhorias introduzidas na habitação. Na viragem do século, com a montagem de um motor a gás (sistema "OTTO, de 1,5 cavalos"). Mais tarde, com a construção de um portão na Travessa de Entre-Campos (lado poente) e com a exploração de uma instalação eléctrica destinada a iluminar a residência. Em 1922, com a assinatura de um contrato com a Companhia das Águas do Porto para fornecimento diário de 73 litros de água.
Fotografia da Travessa de Entre-Campos (lado poente) / Photo of Travessa de Entre-Campos (west side)Do lado nascente, a Quinta Burmester confrontava com um prédio pertencente a Primo Monteiro Madeira, sito no número 877 da Rua do Campo Alegre. Necessitando de reparar umas construções exteriores a esse prédio, Primo Madeira enviou uma carta a Maria Henriqueta Leite Guedes Burmester, viúva de Gustavo Adolfo Burmester, em Dezembro de 1943, pedindo-lhe autorização para encostar os telhados daqueles imóveis ao muro que separava os terrenos de que ambos eram proprietários.
Fotografia da Casa Burmester, fachada lateral / Photo of Casa Burmester, lateral façadeEm 1957, a Quinta e Casa Burmester foram entregues pelo Estado à Faculdade de Ciências, em compensação dos cortes infligidos na área pertencente ao Jardim Botânico, na sequência da construção dos acessos à Ponte da Arrábida. Alguns anos mais tarde, quando se revelaram insuficientes as instalações da Faculdade de Letras, o Jardim Botânico prescindiu de parte da propriedade em favor desta Faculdade. Luís de Pina, director da Faculdade de Letras criada em 1961, supervisionou e acompanhou de muito perto as obras de beneficiação que foi necessário levar a cabo para que o Palacete Burmester acolhesse professores e alunos.
Durante os anos 80, a casa que iria ficar na história da Universidade e da cidade com o nome de "Casa Primo Madeira", foi restaurada sob a orientação do arquitecto Fernando Távora, sendo nela que se encontra instalado, desde 1989, o Círculo Universitário do Porto.

Faculdade de Letras (1919 - 1928, 1961)

O crescimento da Universidade em termos orgânicos iniciou-se em 1919 com a instituição da Faculdade de Letras. A primeira proposta de estabelecimento desta escola datava já de 1915 e tinha sido elaborada pelo Ministro da Instrução Pública, Doutor João Lopes Martins, catedrático da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. Contudo, houve que esperar ainda quatro anos para que a lei consignasse a criação desta Faculdade, num contexto controverso que ficou conhecido por “questão académica”.
Com efeito, a Faculdade de Letras do Porto surgiu como consequência de um conflito entre o Ministro da Instrução, Domingos Pereira, e a Universidade de Coimbra, que, em termos legais, teve como desfecho a extinção da Faculdade de Letras nessa Universidade e a sua instituição na Universidade do Porto. A Lei nº 861, de 27 de Agosto de 1919, no seu artigo 11.º, estabeleceu a nova faculdade no Porto, a qual começou a funcionar no ano letivo de 1919-1920.
Ameaçada de extinção em 1923 por alegados motivos financeiros, a Faculdade de Letras do Porto viria a ter uma vida curta, acabando por ser suprimida pelo Decreto nº 15.365, de 12 de Abril de 1928, assinado pelo Ministro Alfredo de Magalhães. No entanto, os alunos matriculados obtiveram autorização para terminar as suas licenciaturas e as aulas funcionaram até 31 de Julho de 1931, data da realização do último exame.
Notas biográficas de alguns dos estudantes e docentes da 1.ª Faculdade de Letras da Universidade do Porto encontram-se disponíveis neste Sistema de Informação.
A extinção da Faculdade de Letras, em 1928, deixou um grande vazio no campo das Humanidades. Este facto levou diversas personalidades a lutar pela sua restauração, fazendo-o quer através dos órgãos de poder da própria Universidade, quer em outros foros, como o Parlamento, onde vários deputados se pronunciaram a favor da reabertura. Este esforço acabou por ser recompensado no 50º aniversário da Universidade do Porto, em 1961, ano em que, de novo, foi instituída a Faculdade de Letras. Esta Faculdade haveria de ministrar duas licenciaturas — em História e em Filosofia — e as “ciências pedagógicas”, prevendo-se, contudo, na lei, a possibilidade de serem criados novos cursos.
A restaurada Faculdade iniciou o seu funcionamento letivo em 26 de Outubro de 1962, ministrando os cursos referidos, e assim permaneceu até 1968, data a partir da qual foram surgindo, aos poucos, novas licenciaturas e cursos de pós-graduação.

Casa Burmester

Desenho da Casa BurmesterRua do Campo Alegre, 1055
4150-180 Porto
Centro de Linguística


Situado nos jardins do "Complexo Pedagógico Universitário" (na Rua do Campo Alegre), o palacete data do final do século XIX e pertenceu ao alemão Gustavo Burmester. O jardim apresenta o mesmo traçado romântico da Quinta do Campo Alegre. A casa, de planta em cruz, com uma reentrância na parte traseira, foi confiscada pelo Estado durante a 1ª Guerra Mundial e em 1950 foi vendida à Câmara Municipal do Porto. Seis anos depois é cedida à Universidade do Porto.
Mapa com a localização da Casa Burmester

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